Paços de Ferreira à procura de sócias

O clube da Capital do Móvel está à procura de novos associados. Para 2013, os pacenses pretendem lançar algumas iniciativas para conseguir angariar mais apoiantes. O Paços de Ferreira parece não ignorar a importância de ter adeptos no Estádio da Mata Real e faz bem (algumas razões podem ser encontradas aqui ou aqui).

Sumariamente, o clube procura cativar novos e actuais sócios, como é explicado aqui. Uma das acções que se destacam visa o público feminino: dois atletas do Paços de Ferreira, o capitão Filipe Anunciação e o jovem Caetano, são os protagonistas de um teaser que promete ter continuação. Antes de avançarmos mais algumas explicações, aqui fica o vídeo.

O clube garante que a promessa veículada no teaser será cumprida caso as adeptas do Paços de Ferreira se tornem associadas dos “castores”. Com isto, o clube promove alguma proximidade entre a organização, a equipa (a sua faceta mais evidente) e as apoiantes.

Na mesma semana, o Paços de Ferreira renovou a imagem do castor presente em boa parte da estratégia do clube. A renovação resultou de uma parceria entre o departamento de Marketing da organização e um programa de televisão. Esta acção teve um bónus adicional: o público adicional que tomou conhecimento da iniciativa.

Todas as acções até aqui relatas apresentam-se com boas intenções. O clube mostra que quer ser mais do que uma entidade que proporciona espectáculos desportivos uma vez por semana. Com isto, a organização pode valorizar-se. Sobra uma dúvida: as acções inserem-se num plano coerente e consistente para o desenvolvimento do Paços de Ferreira? Plano este que teria como objectivos diferenciar o clube, criar uma identidade única e garantir uma acção continuada? Se a resposta for negativa, o impacto das boas intenções será francamente diluído. Ainda assim, fica o destaque merecido.

PSG prepara mudanças na identidade visual do clube

De acordo com o Le Parisien, a milionária formação francesa preferiria que o título deste artigo se referisse à organização como Paris SG. Isto porque os investidores catarenses do clube querem, alegadamente, reforçar o carácter parisiense da organização. Segundo o diário gaulês, faz parte da estratégia de promoção da imagem do Paris Saint-Germain apoiar-se na amplamente reconhecida capital de França. Basicamente, pretende-se beneficiar o clube pela associação a uma marca já implementada.

Alterar a identidade visual de uma organização é uma jogada complexa, sobretudo quando se trata de um clube de futebol. A identidade visual é um dos contactos mais frequentes e imediatos que temos com a formação que apoiamos. A ligação que temos ao escudo da nossa equipa é profundamente emocional, pelo que alterações que ignorem os adeptos – o derradeiro público de um clube de futebol – são meio caminho andado para o desastre. Daí que a alteraração do símbolo do PSG e do próprio nome da organização mereça profundas reflexões. Estas parecem estar a ser realizadas, pela descrição feita pelo Le Parisien. Os receios de má recepção existem no seio do clube e são compreensíveis, já que um dos objectivos passa por ir apagando metade da origem do Paris Saint-Germain.

Fonte: leparisien.fr
Fonte: leparisien.fr

As organizações não são estáticas, daí que as suas dimensões também não o possam ser. O objectivo de reforçar a relação entre Paris e o PSG parece-me bem pensado, mas tenho dúvidas que haja necessidade de realçar a dimensão parisiense pela eliminação do “Saint-Germain”. Acredito que é um conflito escusado. Seria preferível procurar dotar o clube, a sua comunicação e funcionamento, das características que queremos herdar de Paris. Procurar criar um espírito tido como típico da capital francesa, em vez de impor a relação pela repetição do nome, até porque “Paris” já lá está e em primeiro lugar. No fundo, trabalhar no mundo das ideias. Veremos como se processa esta tentativa de recriação da marca do Paris Saint-Germain.

A responsabilidade social do Manchester City

Mais do que em qualquer outro país, os clubes ingleses especializaram-se na comunicação da respectiva organização. São muitos os clubes que procuram mostrar os bastidores da equipa, que criam conteúdos numa base regular, enfim, que fazem um esforço contínuo para existir. A ligação aos adeptos é o grande objectivo de todos esses esforços.

Um jovem apoiante dos citizens teve a oportunidade de conhecer o seu ídolo, o guarda-redes Joe Hart, bem como o plantel orientado por Roberto Mancini. Os antecedentes de Hayden (doença) foram o pretexto para a inclusão do jovem nos trabalhos do clube, pelo menos por um dia (na realidade, dois). A iniciativa foi alvo de uma reportagem da Sky Sports. Foi uma tentativa de exaltar a responsabilidade social do Manchester City.

Concretizar o sonho de uma criança é sempre um acto nobre, ainda que acarrete alguns perigos. O clube, por associação ao medium em questão, pode ser acusado de explorar as expectativas do jovem. Neste exercício teórico, tudo depende da abordagem feita pelo órgão de comunicação social. Daí que a escolha dos parceiros seja crucial. Ainda assim, o gesto é quase sempre gratificante: para o jovem e para o clube. Este parece ter sido o caso. O clube mostrou que é mais do que uma entidade que proporciona espectáculos de futebol durante um delimitado período de tempo. Mostrou que não é apenas uma estrutura formal. Provou que assume as suas responsabilidades perante a sociedade, em particular, perante aqueles que lhe são mais próximos.

Visto originalmente em: Maisfutebol.

Porque o Barcelona é “més que un club”

O FC Barcelona não ganha só dentro das quatro linhas. A equipa de Xavi, Iniesta, Messi e companhia faz do seu adágio “més que un club” uma teoria que aplica em todos os momentos, seja nos desportivos ou comerciais.

O Barcelona mostra com frequência que não se concentra simplesmente em jogar bem, há uma ideia, uma filosofia no clube, ideia que passa por demonstrar ao mundo que o Barcelona é um clube com muita responsabilidade social. Seja através de  parcerias com organizações como a UNICEF, seja através de iniciativas como o “Quit Smoking with Barça”, o principal clube da Catalunha faz a diferença. A iniciativa atrás referida, assente numa parceria entre o Barcelona e a Comissão Europeia, tem como propósito chamar à atenção dos fumadores para as consequências do tabaco.

Fonte: http://www.youtube.com

Com projectos destes, o Barcelona vai construindo a sua marca. Os resultados desportivos ajudam, mas fora dos relvados o clube catalão não esquece que tem uma imagem a promover e nada melhor do que fazê-lo envolvendo-se socialmente. É com “jogadas” destas que o Barcelona faz a diferença e demonstra o porquê de ser… mais que clube.

 

O derradeiro envolvimento dos públicos

Que Marcelo Bielsa é um treinador sui generis já todos sabiam, o que ninguém poderia imaginar é que se iria adaptar tão bem à realidade única do Athletic Bilbao, apesar de esta temporada não estar a correr tão bem como a primeira. O clube basco é um resistente de outros tempos: apenas jogadores originários da região (ou descendentes de bascos) podem representar a equipa. Este facto pode ser um entrave para se atingir um outro patamar, ainda assim, mitifica o clube, o que é óptimo para a entrada da marca no imaginário comum. Até o argumento desfavorável apresentado pode ser contrariado: a qualidade da formação é capaz de fazer toda a diferença, mesmo com uma base de recrutamento reduzida (o Barcelona pode ser um outro exemplo, ainda que a atenção às camadas jovens seja um apanágio espanhol). Surge, então, uma consequência óbvia: a aproximação do clube ao seu público, com uma maior identificação mútua.

O treinador argentino mostra ser um grande gestor da marca. Se a relação clube-adeptos já tem uma base sólida, construída coerentemente ao longo dos anos, torna-se necessário criar pequenas situações que contribuam para o fortalecimento da relação. E o que é que pode aproximar os adeptos da equipa e dos jogadores? A presença dos primeiros no quotidiano dos segundos. Mais, a presença dos primeiros num dos momentos de maior ritualização e edificação da equipa: os treinos. Foi isto que Bielsa fez na temporada passada. Com um adicional toque de bom senso: os convidados eram os adeptos mais jovens do clube, possivelmente atletas do Athletic.

 

Por vezes, os gestos simples são o melhor meio para envolvermos os públicos, até porque, pela sua natureza, são menos intrusivos. Mas sem o trabalho de fundo que é a aposta na formação de jogadores locais, não terão o mesmo impacto. Um exemplo a seguir por cá.

Um choque com o passado: Plantel do Sporting visita o museu do clube

A 15 pontos dos rivais de Benfica e FC Porto, fora da Taça de Portugal, sem qualquer competição europeia para disputar e apenas com a Taça da Liga como competição ainda passível de ser conquistada, o Sporting Clube de Portugal vive uma época decepcionante. O que não significa que não fosse previsível. Mas isso terá de ficar para um outro texto.  O que interessa aqui é o choque de identidades – do clube, da estrutura, do grupo de trabalho – que se verificou na visita do plantel ao museu do clube.

Fonte: abola.pt (Foto de Jeffren)

Instituição centenária, o Sporting conta com um vasto museu e conquistas em diversas áreas. O futebol até nem será a mais interessante, fruto de um débil historial europeu (apenas uma Taça das Taças). Contudo, a principal força motriz do clube é o futebol. É dentro das quatro linhas do desporto-rei que o Sporting ganha o fôlego suficiente para se constituir como um grande. É também aí que (re)constrói boa parte da respectiva identidade. Ora, esta não é estática e sofre com o prolongado mau momento do clube. Pior ainda, sofre com a falta de um rumo coerente. O Sporting tem vindo a negligenciar a sua vantagem competitiva sustentável: a formação. Hoje em dia, é uma instituição que já só pode apelar à história para se diferenciar de novas ameaças, como o Sporting de Braga. Não é coerente, nem consistente. E, segundo Waly Olins, a gestão da marca pode ser resumida nestes dois conceitos.

A visita guiada ao museu foi uma acção de tutoria. Foi a deslocação a um sítio que personifica onde o clube quer chegar (voltar). Como não existe essa personificação na estrutura da organização, só os mitos podem criar uma identidade partilhável por um plantel multicultural. A procura de um passado imemorial, de uma tradição invariável, sempre foi uma arma para a construção de uma identidade partilhada (ver o primeiro capítulo de The Invention of Tradition, da autoria de Eric Hobsbawm). Que o digamos nós, mais ou menos filhos de um Viriato-herói, um guerreiro tão inacreditavelmente grande que foi capaz de perturbar o próprio Império Romano (as questões geográficas entre a Lusitânia e o original Condado Portucalense são apenas um pormenor).

 

Comunicação desportiva: O genial José Mourinho

Começo por uma declaração de interesse. Sou um grande apreciador do trabalho desenvolvido por José Mourinho. O treinador português é tudo menos um figura consensual, mas, a meu ver, no que toca a gestão/orientação de uma equipa de futebol, é o número um. Mourinho é fortíssimo nos aspectos técnicos, tácticos, psicológicos e comunicacionais. Embora os outros sejam extremamente importantes, o que interessa aqui analisar são as características da comunicação do treinador português.

Mourinho deu nos últimos dias uma lição de como bem comunicar no mundo do futebol. Muito criticado recentemente. o técnico do Real Madrid deu o peito às balas e avisou que estaria disposto a receber os assobios dos adeptos no jogo contra o Atlético de Madrid. Há aqui, no entanto, algo a destacar. Os assobios deveriam ser destinados só a ele, já que ele iria subir ao relvado sozinho antes do jogo, mas, começando a partida contra os colchoneros, os assobios deveriam parar e a equipa passaria então a ser alvo do apoio dos adeptos merengues. O resultado foi simples. Mourinho subiu ao relvado sozinho como prometido e… os assobios foram substituídos pelos aplausos.

Fonte: http://www.youtube.com

Uma jogada de mestre de Mourinho que mandou assim vários recados. Uma primeira mensagem foi dada para o interior. Com esta atitude, Mourinho demonstrou, mais uma vez, que o todo está acima das individualidades, ou seja, “quem me quiser criticar que me critique mas deixem a equipa em paz e apoiem os jogadores”, foi mais coisa menos coisa aquilo que Mourinho quis dizer ao tomar esta atitude. Segundo, o recado foi passado para o exterior. Ao ser aplaudido, Mourinho “calou” aqueles que o tem vindo a criticar. Quem não está satisfeito com Mourinho não teve coragem de assobiar no sábado à noite porque a maioria do estádio aplaudia o técnico português. Uma jogada de mestre. No aspecto comunicacional, é brilhante. Mourinho conseguiu com esta atitude galvanizar a equipa e  adeptos e calou de forma contundente os seus detractores. Quer se goste do treinador português ou não, Mourinho é o melhor naquilo que faz.

Reputação: A “vitória” do Sporting Clube de Portugal

A equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal está a passar por um momento difícil. Os resultados desportivos estão longe de ser os melhores e financeiramente os leões também passam por dificuldades. O que fazer para recuperar uma imagem já de si muito abalada? Para esta pergunta não há uma única resposta. No entanto, o Sporting encontrou uma solução (pelo menos temporária para este mau momento.

Os leões decidiram “dar a cara” e participaram num jogo de solidariedade no Algarve. O objectivo passava por angariar dinheiro para ajudar as vítimas do tornado que afectou recentemente a região algarvia. Uma boa iniciativa por parte do Sporting que assim conseguiu certos objectivos para além do desiderato principal, que era o de ajudar quem mais precisava. Senão vejamos.

Primeiro, com esta atitude, o Sporting mostra ter responsabilidade social, conceito tantas vezes esquecido em Portugal. Segundo, cala durante uns tempos os críticos porque ninguém tem coragem de criticar uma equipa que se dispõe a actuar desta forma. Esta iniciativa traz um pouco de oxigénio à estrutura do futebol leonino. Finalmente, o facto de ter ganho o jogo não deixa de ser positivo, principalmente para uma equipa que acumula maus resultados.

A dupla vitória do Sporting
A dupla vitória do Sporting

Somado tudo isto, foi uma boa iniciativa e o Sporting só retira coisas positivas da situação. Uma boa estratégia de comunicação, trabalha-se a marca Sporting e consegue-se impulsionar a reputação de um clube que tem sido muito criticado na praça pública. Este acontecimento é claramente uma vitória para o clube de Alvalade.