O futebol precisa de um Leicester campeão

Em boa verdade, se a Premier League for conquistada pelo Tottenham, o principal argumento deste texto mantêm-se intacto: o futebol precisa de um Leicester campeão. Qualquer Leicester. Com isto quero dizer que o futebol precisa de pequenos que derrubem os gigantes. O Leicester é somente uma encantadora metáfora com ares de sinédoque. Sem eles – os pequenos – o desporto-rei perde qualquer sentido de transcendência.

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A entrevista de Pinto da Costa ou o novo ciclo do FC Porto

Texto originalmente publicado a 26 de Março de 2016, no site Futebol 365

Este texto resultou da colaboração semanal existente entre o Futebol 365 e este blogue. O objectivo desta parceria passa por pensar o futebol por um prisma pouco comum, ou seja, o da comunicação.

«Na próxima época os jogadores do FC Porto terão de ter qualidade, mas, mais que tudo, caráter». Esta frase resume muito do que foi a entrevista de Jorge Nuno Pinto da Costa, na passada quinta-feira, ao Porto Canal. O presidente do FC Porto não fugiu às críticas dos adeptos e assumiu que o atual momento dos azuis e brancos é difícil e que muito terá de mudar na próxima época.

Confesso que há muito que não via o presidente portista tão vivo e cheio de energia. Ao longo da entrevista, de cerca de uma hora, Pinto da Costa não fugiu a nenhum tema. Dos recentes desaires dos azuis e brancos à contratação de Lopetegui passando pela crítica dos adeptos à direção portista que acusam de ganhar dinheiro com as contratações de certos jogadores de qualidade duvidosa, Pinto da Costa foi sempre muito claro e contundente nas suas explicações.

Podemos retirar algumas conclusões das palavras de Pinto da Costa:

1- O líder dos dragões está vivo e não se esconde. Pinto da Costa mostrou estar muito agastado com tudo o que se tem passado no clube e assumiu a inteira responsabilidade pelo mau momento da equipa, um momento menos bom que dura já há cerca de três anos. O presidente dos azuis e brancos assumiu mesmo que a derrota frente ao Tondela por 1-0, em casa, na última jornada do campeonato, foi um dia para esquecer.

«Foi o dia em que mais me senti envergonhado de uma exibição do FC Porto!». Pinto da Costa admitiu ainda ter dado poderes a mais a Lopetegui e que os dragões «bateram no fundo!». Frases fortes que não deixam a nação portista indiferente e que demonstram que o principal líder percebe a realidade do clube e não foge às suas responsabilidades.

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Mais uma derrota para o FCP em Paços de Ferreira (Fonte da imagem: http://www.abola.pt PEDRO TRINDADE/ASF)

2- As grandes lideranças são feitas de frontalidade, mas são sobretudo construídas baseadas em realismo. Pinto da Costa demonstrou estar perfeitamente consciente do mau momento do clube. A ‘radiografia’ dos problemas parece estar feita e o presidente do FC Porto deixou duas ideias essenciais na entrevista a Júlio Magalhães.

Primeiro, Pinto da Costa reconheceu que se tentou afastar das tomadas de decisões no clube. Uma estratégia que pretendia, provavelmente, levar uma passagem de testemunho já que o presidente portista não vai para novo. Algo terá falhado já que o líder portista reconheceu que se viu obrigado a recandidatar-se para «voltar a pôr as coisas em ordem porque muito não estava bem».

A segunda ideia importante é que muita coisa irá mudar a nível desportivo no FC Porto na próxima época. O presidente dos dragões utilizou – e deixou bem vincada a ideia – muitas vezes a palavra «caráter» para explicar o que esperava dos jogadores para a próxima temporada. Pinto da Costa deu mesmo a época por perdida – independentemente do FCP vencer a Taça de Portugal ou não – e terá avisado que os seis jogos que faltam para o desfecho do campeonato, bem como a próxima pré-época, vão servir para demonstrar quem merece vestir a camisola portista na próxima temporada.

Um aviso forte feito com alguma energia e que deixa entender que o comportamento pouco combativo de alguns jogadores que se tem registado ao longo das duas últimas épocas não se irá repetir. Pinto da Costa dá assim, indiretamente, razão aos críticos que acusam a equipa de não sentir os valores do clube. Pinto da Costa prometeu mesmo aos adeptos uma equipa a «jogar à Porto» na próxima época.

Em resumo, Pinto da Costa deu uma das melhores entrevistas dos últimos tempos. O líder dos azuis e brancos mostrou estar com energia para um novo mandato e com o espírito de luta que sempre o caracterizou ao longo da sua presidência. É óbvio que as palavras só têm significado se as ações as acompanharem. A nação portista espera para ver cumpridas as promessas de Pinto da Costa, mas uma coisa é certa, a melhor forma de emendar os erros é, antes de mais, reconhecê-los e nisso Pinto da Costa não fugiu a nenhuma responsabilidade, assumindo o mau momento do clube que preside há mais de 30 anos.

O FC Porto não terá vida fácil porque os seus principais rivais, Benfica e Sporting, estão mais competitivos do que nunca e não irão deixar os azuis e brancos ocuparem, facilmente, o lugar de destaque que tiveram nas últimas duas décadas. Este mandato de Pinto da Costa promete ser dos mais duros da sua já longa presidência, mas também um dos mais desafiantes. Só o futuro irá dizer se o presidente portista tem ainda a força necessária para recolocar o FC Porto no patamar a que os adeptos se habituaram.

fonte da imagem de destaque: fcportojornaisoficial.altervista.org

Bloco de Notas: O legado de Johan Cruyff

Texto originalmente publicado a 26 de Março de 2016, no site Futebol 365

Este texto resultou da colaboração semanal existente entre o Futebol 365 e este blogue. O objectivo desta parceria passa por pensar o futebol por um prisma pouco comum, ou seja, o da comunicação.

É inegável. Anteontem, o mundo do futebol ficou mais pobre com a morte de Johan Cruyff. Aos 68 anos, aquele que foi um dos melhores jogadores de sempre da história do futebol deixou-nos vítima de cancro. Cruyff foi muito mais do que um jogador de futebol. O legado dele vai para além das jogadas de qualidade e da técnica apuradíssima. O holandês voador conseguiu também o que poucos alcançaram: ser um magnífico jogador, mas também um treinador que revolucionou o mundo do futebol. Continue a ler Bloco de Notas: O legado de Johan Cruyff

Premier League: Um campeonato mesmo muito especial e uma marca fortíssima

Texto originalmente publicado a 5 de Março de 2016, no site Futebol 365

Este texto resultou da colaboração semanal existente entre o Futebol 365 e este blogue. O objectivo desta parceria passa por pensar o futebol por um prisma pouco comum, ou seja, o da comunicação.

É consensual. Muitos são aqueles que consideram a Premier League como um dos melhores campeonatos do mundo. Há mesmo quem diga que é o número um, que acima do ambiente do futebol inglês não há nada. Gostos são gostos e não se discutem. Certo é que a Premier League é mesmo um campeonato muito especial. O principal escalão do futebol britânico não deixa ninguém indiferente. Mas afinal o que faz da Premier League um campeonato assim tão apetecível? Continue a ler Premier League: Um campeonato mesmo muito especial e uma marca fortíssima

FC Porto e Sporting: As derrotas combatem-se também com uma boa estratégia comunicativa

Pensar em futebol é pensar, antes de mais, em vitórias e derrotas com empates pelo meio. No entanto, as ambições de um clube de futebol têm de ser muito mais do que isso. É fundamental que haja uma estratégia desportiva forte, mas também é importante que exista um plano de comunicação coerente e estruturado. Continue a ler FC Porto e Sporting: As derrotas combatem-se também com uma boa estratégia comunicativa

Marcus Rashford: O que dizer sobre quem decide dois jogos seguidos?

No meio do turbilhão de más notícias que vai assolando o Manchester United, os últimos dias registaram o nascimento de uma estrela. Marcus Rashford é o seu nome. Tem somente 18 anos e bisou nos últimos dois jogos dos red devils. Por sinal, o derradeiro par de partidas também marcou a estreia do jovem atleta pela equipa do Norte de Inglaterra.

Quatro golos de quinta-feira a domingo é um facto sempre interessante, causando ainda mais impacto por terem surgido pelos pés de um até então desconhecido. Para além disto, o contexto desses golos também contribuiu para um hype perfeitamente natural: Marcus Rashford bisou “apenas” na segunda-mão de uma eliminatória europeia até então desfavorável para o Manchester United e no clássico frente ao Arsenal. Em ambos os casos, Rashford foi decisivo para a vitória de um gigante que precisa desesperadamente de encontrar motivos para sorrir.

Se é certo que nasceu uma estrela, mesmo não se sabendo por quanto tempo, como deve ser essa estrela enquadrada? O que deve o clube dizer sobre um talento que está a criar tantas expectativas? E quem não se lembra do que se aventou há três temporadas sobre a promessa por cumprir que é Adnan Januzaj, quando este se estreou pelos red devils?

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Cristiano Ronaldo: Um líder equivocado

“Se todos estivessem ao meu nível, estaríamos em primeiro”. Foi com esta declaração que Cristiano Ronaldo explicou mais um desaire do Real Madrid, desta feita frente ao Atlético de Madrid. Uma derrota por 1-0 em casa que ditou o provável adeus à liga espanhola por parte dos merengues. Umas declarações que muito criaram polémica em Espanha.

O nosso craque português parece não aprender com os erros e tem, com demasiada frequência, o coração ao pé da boca. É compreensível a frustração de Ronaldo, o extremo luso já está a antecipar uma época sem títulos e quando olha para o que é feito no grande rival, o Barcelona, percebe-se o desabafo. No entanto, uma coisa é entender as causas da frustração de Cristiano Ronaldo, outra é aceita-las.

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O desespero de Cristiano Ronaldo (fonte da imagem: http://www.record.xl.pt)

O português não pode dizer publicamente tudo aquilo que pensa. Ele, melhor do que ninguém, sabe o quanto os media têm um papel fundamental na carreira de qualquer futebolista. Ele também sabe o que é ser escrutinado e acredito que tenha a perfeita noção do que se espera de um líder. Quando Ronaldo afirma que os companheiros de equipa não estão ao seu nível está a pôr em causa todo um grupo de trabalho e toda uma estrutura.

Com declarações deste tipo, Cristiano Ronaldo não pode ser líder de nenhuma equipa ou selecção e é bom que o perceba de uma vez por todas já que não é a primeira vez que tem desabafos do género. É verdade que Ronaldo percebeu o erro e se retratou logo de seguida, só que o mal já estava feito. A um líder pede-se cabeça fria e inteligência. Acredito que o português não tenha a mesma motivação de outras épocas, mas, se assim é, o melhor é mesmo sair para outro projeto desportivo. O trabalho dele está feito e bem feito em Madrid, é sempre melhor encerrar um ciclo de trabalho em alta do que se arrastar num ambiente que já não nos motiva. Com tudo isto o único prejudicado é Cristiano Ronaldo. Para quem vive da reputação e do trabalho não parece ser boa ideia continuar por este caminho de autodestruição.

Os públicos são todos iguais?

Não, não são. A centralidade que esta opinião assume neste texto é tal que me leva a responder imediatamente à questão levantada no título. A necessidade de afirmar que os públicos não são todos iguais tem origem em Inglaterra, mais concretamente em Liverpool. Uma mensagem enviada por dez mil pessoas tem de significar algo. Para os donos dos reds significou.

A história teve amplo destaque na imprensa inglesa, mas também um pouco por toda a Europa. Nos media e nas redes sociais, claro. Afinal, não é todos os dias que se vê dez mil pessoas a abandonar um estádio de futebol em protesto. O motivo? O preço dos bilhetes para a bancada central de Anfield Road, que estariam para aumentar para umas impressionantes 77 libras (cerca de 99 euros).

A acção dos apoiantes do Liverpool ganha ainda maior dimensão por envolver adeptos de um gigante com uma mística muito singela. Para além da popularidade, a formação agora comandada por Jurgen Klopp vive revestida de uma aura muito própria, em parte originada por símbolos como o seu estádio e o ambiente nele gerado. Essa aura pode ser também designada, sem grandes hesitações, por reputação. Uma reputação que se consubstancia na perenidade dos tais símbolos, todos eles carregados de um significado amplamente partilhado.

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Gestão de carreira: Quando os jogadores não sabem cuidar da imagem

Uma das coisas mais importantes na vida de qualquer profissional é a forma como se gere uma carreira. Ao longo de um percurso profissional vamos tendo comportamentos que nos definem e que demonstram muito daquilo que somos. Os caminhos que escolhemos também são parte integrante do nosso percurso e, como é comum dizer, é muito laborioso construir uma carreira, mas é extremamente fácil deitar tudo a perder. Continue a ler Gestão de carreira: Quando os jogadores não sabem cuidar da imagem